AL/MT
Com foco em adolescentes, Assembleia Social promove campanha Setembro Amarelo em escola pública
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O portal de balões amarelos e um “jardim” dessas bolas anunciam que a Escola Estadual Fenelon Muller, no bairro CPA, em Cuiabá, começou a campanha de prevenção do suicídio voltada para seus adolescentes, por iniciativa da Assembleia Social (antiga Sala da Mulher).
O Setembro Amarelo foi lançado nessa unidade de ensino na segunda-feira (02), contando com atendimento de uma equipe composta por psicóloga, assistente social, coachings do Instituto Potencialize, suporte da unidade do CAPS no CPA e apoio do Centro de Valorização da Vida (CVV).
A ação da Assembleia Social buscou atender alunos de uma escola pública, com foco no grupo: adolescentes. O suicídio é hoje a terceira causa de morte na adolescência e a tentativa dele, a principal causa de emergência psiquiátrica em hospitais gerais. Além disso, o grupo em que há maior crescimento de casos é o formado por jovens de 15 a 24 anos.
O objetivo da ação foi dispor profissionais especializados na temática para acolher os alunos durante a tarde de terça-feira e abrir uma rede de atendimento. Os jovens que procuraram a equipe foram orientados a procurar tratamento psicossocial regular e a escola buscará formas de os inserir na rede pública de saúde mental.
Além disso, uma caixa amarela foi disposta para a etapa “Desabafe. Quem cala só sente!”, onde os estudantes podem se expressar livremente e, ao fim de setembro, a equipe multidisciplinar voltará à escola, para avaliar o conteúdo e fazer os encaminhamentos necessários. “Já aconteceu aquela tristezinha no coração? Aquele ‘ninguém me ama, ninguém me quer’? Hoje a gente vai falar sobre isso”, convidou na abertura a diretora da Assembleia Social, Daniella Paula Oliveira.
A diretora conta que escolheu a referida escola por conhecer o trabalho desenvolvido nas aulas de artes, na busca de que expressem por outras maneiras aquilo que estão sentindo. Aliás, a escola se tornou uma grande galeria de arte, com os trabalhos de pintura, alguns retratando a dor, a depressão, a solidão.
“Eles tinham grandes dificuldades de se comunicar, de se expressar. Eu percebi que muitos alunos vinham com cortes no pulso, que, do nada, começavam a chorar e eu fiz rodas de conversa sobre depressão, sobre suicídio e a gente começou a fazer aulas de arte com temas nesse sentido”, contou a trajetória a professora de Artes, Daniela Cunha, parceira da Assembleia Social nos cursos de pintura.
Representando a deputada estadual Janaina Riva (MDB), parceira nesta ação, a chefe de gabinete Quézia Limoeiro, contou um caso trágico de suicídio na família e convidou os alunos a observarem os sinais de dor e desespero do outro. “Às vezes, a gente não sabe o que se passa com o colega sentado ao seu lado em sala de aula”.
O assunto é tabu, mas pesquisas indicam que falar das aflições íntimas e sobre tratamentos psicológicos para evitar o suicídio é a principal forma de prevenção. “É importante falar. Depressão não é falta de fé, a depressão é uma doença. Falem! Conversem com os pais, com as professoras. Não há nada de vergonhoso!”, reforça Quézia.
A psicóloga Isadora Asevedo, parceira na ação, destacou: “A gente está aqui hoje para ajudar e evitar que vocês saiam daqui sem um apoio. Vamos nos dar uma chance?”.
Júlia*, de 14 anos, já tentou tirar a própria vida, mas, felizmente, não conseguiu. “Eu sentia uma tristeza diária, pensamentos de suicídio a todo momento”, contou, sobre o quadro depressivo.
A adolescente também é diagnosticada com ansiedade. “Eu estava tendo muita crise, duas ou três vezes por dia”. E os professores da escola perceberam e buscaram ajuda. “Eles me encaminharam para psicólogos e psiquiatras e hoje eu faço todo o tratamento, inclusive tomo medicamento. E eu já percebo grande melhora. O acompanhamento me ajudou bastante”, depôs.
“Hoje é o acolhimento e a partir daí, vamos dar continuidade”, sintetiza a diretora Daniella Paula sobre o primeiro projeto de Setembro Amarelo da Assembleia Social.
Quem sentir aflições e não sabe onde pedir ajuda pode ligar para o CVV. Além disso, pode buscar atendimento nos Centros de Atendimento Psicossocial da rede pública de saúde, divididos por regiões ou tipo de atuação.
* Nome fictício para garantir anonimato da entrevistada.